domingo, 23 de janeiro de 2011

(Recomendo) Leitura: Bangüê, José Lins do Rego

Bangüê, em sua 22ª edição.


“- Aquela vida de Bangüê era miserável, mas temiam a Usina”¹


Escrito no ano de 1934, pelo autor paraibano José Lins do Rego, o título “Banguê” diz respeito a propriedades agrícolas dotadas de canaviais e engenhos de açúcar primitivo, anterior à Usina².  Resumindo, de forma medíocre, o banguê compreende uma propriedade que abraça tudo o que concerne em um Engenho, além de ser dotado de outros tipos de atividades econômicas (algodão, pecuária).
José Lins do Rego: o autor
Confesso que nunca li alguma outra obra do autor e  conheço muito pouco sobre seus escritos. Entretanto, durante – surpreendentemente – uma semana lendo Bangüê, o livro impressionou - me devido à originalidade do romance brasileiro adotado por “Zé Lins”. O autor mistura saudosismo (que mais parecem ser as memórias do autor, expressas através do personagem principal do romance, Carlos de Melo) com uma narrativa, que elenca os aspectos da sociedade nordestina no começo do século XX. O livro apresenta uma linguagem fácil, o que torna a leitura da obra agradabilíssima.
Em Bangüê, Carlos, formado em Direito, retorna ao Engenho de seu avô (o Santa Rosa) na tentativa de incorporar os negócios da família; "fazer parte dos seus"; em suma, tornar-se um senhor de engenho como seu avô, o coronel Zé Paulino. No decorrer da leitura, surgem temas como patriarcalismo – na figura dos grandes senhores do engenho; o caráter de bravura dos senhores de engenho; a importância da terra; o abolicionismo; e, sobretudo, a expansão das Usinas, na região paraibana, em detrimento à queda dos Bangüês. O livro é divido em três partes, e um dos aspectos que podem ser percebidos trata-se de uma diferença presente  no ritmo da narrativa. Tenho pra mim que a segunda e a terceira parte fluem em um ritmo bem mais acelerado do que a primeira. Talvez, isso se explique pelo fato de que a primeira parte trate mais das memórias de Carlos, sobre as antigas estadias no Engenho do Santa Rosa, e limite-se mais em descrições das personagens do Romance. Enquanto que nas seguintes partes evidenciam-se melhor a decadência do Engenho.  Curiosamente, a pitada “romântica” da obra só aparece na segunda parte (com o envolvimento da personagem com Maria Alice).
O mais impressionante ainda é presença do finito e da surpresa: primeiro, a idéia de que tudo acaba, e, sem segundo, a realidade de fins repentinos. A forma como finda o relacionamento das personagens mencionadas alerta novamente para o ato de "fracassar", presente constantemente nos escritos de Zé Lins. “Fracasso”: esse é a grande sacada da obra. José Lins do Rego chama atenção constantemente para evidências de fracassos e decepções – tanto amorosa, como profissional. Carlos, um bacharel em Direito, passa a estória tentando tornar-se um senhor de Engenho, assim como o seu avô. O despreparo de um bacharel para “cuidar” de terras alude ao conflito existente entre duas figuras: uma do mundo intelectual (“doutor”) e outra do mundo dos Engenhos (Senhor de Engenho). Essas figuras são, respectivamente, Carlos e Zé Paulino. Ao mesmo passo que Carlos reconhece a decadência da sociedade tradicional, a personagem tenta tornar-se senhor de Engenho do Santa Rosa. E sua frustração provém de seu fracasso.
O “clímax” da obra é a realidade da região Nordestina no início do século XX: a expansão das Usinas que tomam as terras dos Bangüês em busca de terrenos para o plantio de cana-de-açúcar e de mão de obra – uma vez que absorve todos os trabalhadores dos Engenhos e oferece-os melhores pagamentos pelo trabalho. É o surgimento de uma nova ordem econômica na região que acaba por descontruir a dinâmica da sociedade tradicionalista em vigor. Não se trata apenas da derrocada dos Bangüês, mas de todo aqueles prestígios de tempos antigos e também do fim de ”sua gente”, que, por sua vez, ora acabam servindo a Usina São Félix, ora migram para outros banguês resistentes.

Usina "Maravilhas", localização: Goiana /PE


Em suma, “Bangüê” é capaz de gerar turbilhões de emoções enquanto lido: curiosidade em saber quais serão os próximos passos das personagens, tristeza com suas decepções, angústias pelas suas frustrações, e, muita, muita apreensão com todo o drama que norteia o romance. 
A obra de José Lins do Rego, na minha humilde opinião, está mais do que recomendada a ser lida! Não deixem de apreciar!!!
Notas:
¹ Trecho retirado de REGO, José Lins. Bangüê. José. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2007. 22ª ed. p. 253.
² Definição retirada de FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda.  Miniaurélio século XXI: o minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p.87.

3 comentários:

  1. (olha, é primeira vez que leio esse texto... kkkkkkkkkkk =P)

    Muito bom o texto...
    o livro deve ser muito bom tb...

    Agora eu tenho uma dúvida: pq mesmo vc veraneando no litoral de PE se deu ao trabalho de fazer uma analise tão criteriosa desse livro, hein? =x

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  2. Sabe que até agora eu ainda tô me perguntando o "porquê"?! hehehe
    Brincadeira!

    Apesar de ter sido uma "promessa", o livro faz juz em ser comentado (E meus comentários nunca são "pouco criteriosos") Rá! :)

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  3. kkkkkkkkkkkkkkkkkkk. Pergunta capciosa essa de Flavia, hein.

    Preciso dizer que recomendo o livro?tistis. Zé Lins é sempre uma ótima pedida pra quem curte romances históricos e literatura mei pessimista.
    Valeu Maiarita, disse tudo!!

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