segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Esses versos

Versos feitos pra te endoidecer.
A intenção, tu não precisas saber.
São frutos de um pensamento ermo
gerados por idéias de meio-termo,
que brotam despercebidas
de vontades subtraídas.


São estrofes que falam por si.
Ora, às vezes, interpretadas por ti.


Mas, meu bem,
não endoideça,
se a opção é "não ouvir",
não enlouqueça.
Por outro lado,
deixe um pouco "a cabeça",
e se permita sentir.
O emocional,
envaideça,
e passe, então, a refletir:
que, um dia, esses versos feitos pra te endoidecer
poderão não existir...


(M.)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Reflexão - "Estupro corretivo"


      Hoje, pela noite, "navegando" na internet, me deparei com uma notícia oriunda da África do Sul: a prática do estupro corretivo. Resumidamente, a prática consiste em tomar uma homossexual e praticar o estupro como forma de "curar" a sua opção sexual. A notícia divulgada em 25 de Janeiro de 2011 não é uma novidade para quem conhece a "cultura" do local.  O curioso é saber que as autoridades locais não caracterizam tais práticas como um ato criminoso. O Homossexualismo sim é tido como crime, na África do Sul...  À impressão de nós, brasileiros e demais localidades que se manifestaram contra, o ato é repugnante e injustificado. A nossa sociedade, embora recheada de preconceitos similares, não "engoliu" o ocorrido.  Isso me recorda a um outro fato que envolve violência contra as mulheres: o caso da Sakineh Mohammadie Ashtiani. Sakineh, uma iraniana, foi condenada à morte por apedrejamento em julho do ano passado, por ter traído o marido. 
       As duas notícias tem algo em comum: o posicionamento contra de grande parte dos países.     Particularmente, os dois fatos pareceram-me um erro gritante  e inadimissível.
Entretanto, ao condenarmos tais acontecimento esquecemos de refletir sobre uma coisa: a "cultura", "os costumes", "os hábitos" da sociedade em questão. Se apedrejar mulheres por adultérios e estuprarem mulheres para "curá-las" de algo compreende em práticas culturais, até que ponto podemos dizer que tal procedência é a correta ou é a errada? Os Direitos Humanos, tidos como universais, são capazes de sobrepor tais fatos, ou acabará como o episódio da iraniana Sakineh?
    Questões complicadas essas. 



domingo, 23 de janeiro de 2011

(Recomendo) Leitura: Bangüê, José Lins do Rego

Bangüê, em sua 22ª edição.


“- Aquela vida de Bangüê era miserável, mas temiam a Usina”¹


Escrito no ano de 1934, pelo autor paraibano José Lins do Rego, o título “Banguê” diz respeito a propriedades agrícolas dotadas de canaviais e engenhos de açúcar primitivo, anterior à Usina².  Resumindo, de forma medíocre, o banguê compreende uma propriedade que abraça tudo o que concerne em um Engenho, além de ser dotado de outros tipos de atividades econômicas (algodão, pecuária).
José Lins do Rego: o autor
Confesso que nunca li alguma outra obra do autor e  conheço muito pouco sobre seus escritos. Entretanto, durante – surpreendentemente – uma semana lendo Bangüê, o livro impressionou - me devido à originalidade do romance brasileiro adotado por “Zé Lins”. O autor mistura saudosismo (que mais parecem ser as memórias do autor, expressas através do personagem principal do romance, Carlos de Melo) com uma narrativa, que elenca os aspectos da sociedade nordestina no começo do século XX. O livro apresenta uma linguagem fácil, o que torna a leitura da obra agradabilíssima.
Em Bangüê, Carlos, formado em Direito, retorna ao Engenho de seu avô (o Santa Rosa) na tentativa de incorporar os negócios da família; "fazer parte dos seus"; em suma, tornar-se um senhor de engenho como seu avô, o coronel Zé Paulino. No decorrer da leitura, surgem temas como patriarcalismo – na figura dos grandes senhores do engenho; o caráter de bravura dos senhores de engenho; a importância da terra; o abolicionismo; e, sobretudo, a expansão das Usinas, na região paraibana, em detrimento à queda dos Bangüês. O livro é divido em três partes, e um dos aspectos que podem ser percebidos trata-se de uma diferença presente  no ritmo da narrativa. Tenho pra mim que a segunda e a terceira parte fluem em um ritmo bem mais acelerado do que a primeira. Talvez, isso se explique pelo fato de que a primeira parte trate mais das memórias de Carlos, sobre as antigas estadias no Engenho do Santa Rosa, e limite-se mais em descrições das personagens do Romance. Enquanto que nas seguintes partes evidenciam-se melhor a decadência do Engenho.  Curiosamente, a pitada “romântica” da obra só aparece na segunda parte (com o envolvimento da personagem com Maria Alice).
O mais impressionante ainda é presença do finito e da surpresa: primeiro, a idéia de que tudo acaba, e, sem segundo, a realidade de fins repentinos. A forma como finda o relacionamento das personagens mencionadas alerta novamente para o ato de "fracassar", presente constantemente nos escritos de Zé Lins. “Fracasso”: esse é a grande sacada da obra. José Lins do Rego chama atenção constantemente para evidências de fracassos e decepções – tanto amorosa, como profissional. Carlos, um bacharel em Direito, passa a estória tentando tornar-se um senhor de Engenho, assim como o seu avô. O despreparo de um bacharel para “cuidar” de terras alude ao conflito existente entre duas figuras: uma do mundo intelectual (“doutor”) e outra do mundo dos Engenhos (Senhor de Engenho). Essas figuras são, respectivamente, Carlos e Zé Paulino. Ao mesmo passo que Carlos reconhece a decadência da sociedade tradicional, a personagem tenta tornar-se senhor de Engenho do Santa Rosa. E sua frustração provém de seu fracasso.
O “clímax” da obra é a realidade da região Nordestina no início do século XX: a expansão das Usinas que tomam as terras dos Bangüês em busca de terrenos para o plantio de cana-de-açúcar e de mão de obra – uma vez que absorve todos os trabalhadores dos Engenhos e oferece-os melhores pagamentos pelo trabalho. É o surgimento de uma nova ordem econômica na região que acaba por descontruir a dinâmica da sociedade tradicionalista em vigor. Não se trata apenas da derrocada dos Bangüês, mas de todo aqueles prestígios de tempos antigos e também do fim de ”sua gente”, que, por sua vez, ora acabam servindo a Usina São Félix, ora migram para outros banguês resistentes.

Usina "Maravilhas", localização: Goiana /PE


Em suma, “Bangüê” é capaz de gerar turbilhões de emoções enquanto lido: curiosidade em saber quais serão os próximos passos das personagens, tristeza com suas decepções, angústias pelas suas frustrações, e, muita, muita apreensão com todo o drama que norteia o romance. 
A obra de José Lins do Rego, na minha humilde opinião, está mais do que recomendada a ser lida! Não deixem de apreciar!!!
Notas:
¹ Trecho retirado de REGO, José Lins. Bangüê. José. Rio de Janeiro: José Olympio Editora, 2007. 22ª ed. p. 253.
² Definição retirada de FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda.  Miniaurélio século XXI: o minidicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p.87.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

"Pra falar mais um pouco de mim"*

 Embora a intenção deste blog não seja falar de mim - mas sim falar de algumas coisas que penso, recomendo ou aprecio. Seria uma grosseria, eu não falar dos meus gostos em meu próprio blog. 

*

Gosto de praia, mas com pouco Sol. No lazer, sair com amigos é uma boa pedida. Apesar de ser uma pessoa de fácil convivência também gosto dos "MEUS" momentos; do "ficar só", do "ficar comigo mesmo", do "abusar um pouco mais de mim"
Prefiro salgados, aos doces. Prefiro a noite, ao dia. 
Gosto das pessoas, mas detesto locais tumultuados.
Gosto de rir com motivo, e ri mais ainda sem motivos. Sorrio para o engraçado, e, também quando estou nervosa.
Procuro ser sincera em tudo o que eu faço - e às vezes pago muito caro por isso. Sou chata para escolher roupa, e demoro a me arrumar. Gosto do desajeitado, do discreto - apesar de que eu seja pura energia.
Musicalmente falando, aprecio mpb, o blues, o chorinho, os sambinhas, alguns bregas, o bom e velho rock'n roll, e as coisas mais "from hell" como hard rock e algumas variações do Metal.Tolero outros estilos e tolero muitas outras coisas também! 
Sou assumidamente "cinéfila", mas uma 'cagona' para assistir filmes de terror. Admiro o cinema nacional. Gosto de filmes de animação - quando engraçados e bem produzido. Gosto de assistir o filme, e ter com quem discutir depois.
Gosto de discutir filmes e futebol! Quanto aos assuntos futebolísticos, sou uma carioca que mora em Natal e que torce para um time paulista (São Paulo), mas, admito, de tremenda queda pelo Fluminense. Quanto ao meu time potiguar... bem, isso é uma longa história. A decisão ainda está em processo. 
Sou intensa, 
me expresso facilmente,
porém não sei "me fazer entender";
sou prática,
e, mutuamente, (muito) complicada. 
Logo, gosto do complicado e do complexo.
Não tenho religião.
Não acredito no destino, acredito no acaso.
Não tenho preconceitos. 
Por falar em "não", também não tenho emprego. 
Divido-me entre dois amores, profissionais: a História e a Segurança do Trabalho.
Perdôo, mas não esqueço. Me apego fácil, na mesma intensidade com a qual me desapego. Perco o interesse facilmente. Falo, sem pensar. 
Prefiro o "sonhar acordada". Fico triste, mas não demonstro. Sou curiosa, chorona, impulsiva, me arrisco constantemente, me "dou" pra vida. 
Sou poetisa "amadora"; desenhista de araque; psicanalista barata dos amigos.
Toco violão, mas não tenho o dom para música.
Sou a favor da legalização da maconha, do casamento Gay, do "se juntar", e de toda forma de amor existente. 
Gosto bastante de ler - o que me obrigam, o que me recomendam e o que eu quero. 
E gosto ainda: de tapioca, de tagarelar, de pensar na vida enquanto olho a paisagem no ônibus em movimento, de cheiro de terra molhada, do barulho do Mar, de suco de maracujá, de dormir enquanto chove, de banho de rio, de cachorros, de açaí, de brigadeiro, de bijuteria, de sandálias e sapatos, de vestidos, de tomar banho de chuva, de Vodka, de pizza, de água de coco, de dizer "nada não", de ler gibis da Mônica, de fazer drama, de fazer bico, de fazer bem feito, de soltar gargalhadas de doer a barriga... 
e, sobretudo, de viver.

*O título da postagem faz alusão à música de Odair José, "Eu, você e a praça"; 

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

A Entrega

Entregar-se
sem notar
às coisas que estremecem corpo e alma.
Sensação que ora atordoa
ora acalenta,
acalma.
(Doar-se, sem querer)
Não correr risco: a pretensão
ausente de medo,
não demonstrar desejo,
em vão...
pretender,
ou não?!
- Me Entregar?
- Sim. Entrega-te ao sem sentido, ao acaso, ao desconhecido.
- Não...
Talvez, melhor que seja,
num lugar em que esteja
um alguém arrependido.
(M.)

Aprecio - música



"Quando ela mente
Não sei se ela deveras sente
O que mente para mim
Serei eu meramente
Mais um personagem efêmero
Da sua trama
Quando vestida de preto
Dá-me um beijo seco
Prevejo meu fim
E a cada vez que o perdão
Me clama
Ela faz cinema
Ela faz cinema
Ela é demais
Talvez nem me queira bem
Porém faz um bem que ninguém
Me faz.."
Música: Ela faz cinema 
Composição: Chico Buarque de Hollanda
*
Aprecio, e muito! Pura poesia de letras intensas.
Sobretudo, aprecio excessivamente este trecho.




Recomendo


A foto acima é relativa ao documentário denominado "The Union: The business behind getting high",  o que equivaleria mais ou menos a  "O negócio por trás do barato".  O documentário explora bem as verdadeiras razões para a proibição do comércio da maconha nos Estados Unidos da América. Sem poupar e censurar palavras, durante o documentário são abordadas questões sobre "o que é a maconha; do que ela é produzida; a história de sua comercialização; a questão da descriminalização e a questão da legalização".  Além de tratar de questões mencionadas, o documentário questiona os mitos e tabus sobre o consumo da maconha. Na minha opinião, não soou tanto como uma teoria da Conspiração contra os EUA. The Union traz questões inteligentes que na maioria das vezes ignoramos ou apenas reproduzimos "pré-conceitos", anteriormente, estabelecidos por alguém. Lembrando que preconceito é falta de informação.
Esta postagem não tem fins de apologia.  No ano passado, participei, em Natal / RN, da "Marcha da Maconha", realizada no campus Universitário da cidade. Dizendo, livremente, aos meus pais que iria participar do evento e que apoio à causa da legalização, impressionei-me com o grande público que a Marcha conseguiu mover - embora, muitas pessoas estivessem ali apenas pelo "auê". Logo, recomendo o documentário por achar mais do que necessário o debate, atual, sobre a legalização da maconha, diante das imensas manifestações, debates e eventos que vem sendo promovidos a fim de incitar o assunto. É preciso estar aberto a discutir muitos assuntos que surgem na sociedade contemporânea. Fica aqui a dica!

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Música no verão de 2011

 


     Confesso que eu, ultimamente, procurava ter ouvidos abertos às diversidades musicais que me apareciam. Apesar de não apreciar tudo o que ouvia, procurei entender a intenção de letras como "ela sai de saia e de bicicletinha" ou, ainda, "rala a xana no asfalto". No meu semestre passado (2010.2), exercendo a graduação de História na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, cursei uma disciplina intitulada de "História da cultura",  e foi então que, mais ou menos, percebi que toda música apresenta uma intencionalidade escondida em sua produção. Fiquei mais tranquila em descobrir isso, ao ver que muita coisa fazia sentido. Até aí, tudo bem. 
          No último final de semana, em uma certa praia no litoral do estado de Pernambuco, deparei-me com a grave situação em que a qualidade das músicas que embalam o verão de 2011 encontram-se: versos como "Às 5 da manhã, você quer ligar pro boi, use quatro operadoras claro, vivo, tim ou oi", e o refrão "pode ligar a cobrar"; embora tenha ausentado-me da cidade de Natal/RN, a "música" do momento cruzou fronteiras ("vou não, posso não, quero não...") e, durante 1 hora - cronometrada - tocou três vezes nos famosos paredões - carros providos de um som potente capazes de reunirem grupos, de acordo com o gosto musical do motorista. A minha preocupação, além de corresponder às frases entoadas em sons de decibéis exagerados, consistiu no "efeito" que tais músicas surtiam no público: rebolados empolgados em homens, que trajavam praticamente apenas uma bermuda e um colar prata (este acessório era unânime!) e em mulheres - que, em sua maioria, caprichavam na maquiagem. A cena foi angustiante: canções de poucas (nenhuma) letras de tão grande aceitação.
         É claro que não pretendo que os veraneios sejam realizados a partir de rodinhas onde os jovens se reúnam para escutar canções como as de Chico Buarque de Hollanda, ou se realizem a partir de "bate-cabeças" curtindo o álbum Rust in Peace, do Megadeth. Entendi que todo grupo tem a sua forma específica de expressão; mas, convenhamos: até os inesquecíveis versos de "pau que nasce torto, nunca se endireita. Menina que requebra, mãe, pega na cabeça" (Grupo É o Tchan) continham mais "poesias" e mais sentido, não?

(Por mim)