sábado, 25 de junho de 2011

Recomendo - Música: Chico Buarque


"Perdida na avenida canta seu enredo fora do carnaval. Perdeu a saia, perdeu o emprego.Desfila natural!
Esquinas, mil buzinas, imagina orquestras, samba no chafariz. 
A dor não presta. 
Felicidade, sim (...) 
Bambeia. Cambaleia. É dura na queda.
Custa a cair em si. 
Largou família, bebeu veneno e vai morrer de rir. 
Vagueia. 
Devaneia. 
Já apanhou à beça, mas para quem sabe olhar a flor também é ferida aberta e não se vê chorar. 
O sol ensolarará a estrada dela..."

(Dura na queda)


*
Foto tirada na Praia de Pium/RN

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Um saudosismo de sentimentos



Os contemporâneos que me desculpem, mas, nos tempos de hoje, o mais difícil é regredir, e não o amadurecimento. Regredir é bem mais complicado. Pode-se dizer que, para alguns, é impossível. E, para os que conseguem essa façanha, é uma prática tão poucas vezes repetida.
Quando faço esta afirmativa, pretendo mostrar como o nosso amadurecimento perante os novos tempos nos fizeram mais vazios, mais apáticos...

Pouco se resta das sensações e sentimentos que eram constantes na infância. 
Muita coisa ficou pelo caminho dos 20 anos, 30, 50..

Perdeu-se a esperança de que as coisas sempre iam melhorar, se você ficasse quietinho no quarto e cumprisse o castigo;
A INOCÊNCIA...
A CRIATIVIDADE, mesmo que fosse para sair desenhando as paredes da casa toda e deixar sua mãe zangada; 
O ato de se IMPRESSIONAR com coisas pequenas; e a paciência de aprender as coisas de gente grande; 
A IMAGINAÇÃO... porque se você amarasse um lençol em seu pescoço, você podia ser um super-herói.
O SORRISO FÁCIL, soltado por desenhos que, hoje, aos nossos olhos, parecem tão bobos.
A ESPERA, exercitada para tomar o refrigerante (ou o suco) só depois de almoçar;
ou querer esperar até a meia-noite pelo velho Noel, e acabar adormecendo no sofá;
ou esperar o sorvete, que dizia que só te davam depois da refeição...
As DESCOBERTAS, que se fazia mexendo nas coisas dos pais, ou dos irmãos mais velhos. Ou quando se ia desbravar locais desconhecidos, casas mal assombradas com os amigos...
A COMEMORAÇÃO por conquistas fáceis e o ORGULHO gerado por elas: ganhar uma estrela da professora, zerar uma fase no videogame, ganhar no bafo, ganhar no jogo da escola, ganhar um excelente nos rabiscos que você fazia...
A CONFIANÇA nas pessoas... quebrada por tantas vezes nos sermões que escutávamos "não confie em estranhos"; Ou mesmo a confiança em si mesmo, a ponto de negar ajuda de pai, mãe, professora, e soltar um "eu sabo fazer". E, era mesmo, você confiava e fazia...
O RESPEITO. O respeito pelos mais velhos, pelas vozes grossas, pela professora.
O fato da REPETITIVIDADE não te deixar estressado, a repetitividade te fazia querer assistir a mesma VHS, do seu desenho ou filme predileto, umas 5 vezes, ou a mesma fita no radinho. Por dia!
A FALTA DE AMBIÇÃO... que te fazia querer saber em quantas balas, dindin, picolés, cabia 50 centavos.
A INTERAÇÃO com os coleguinhas. Uma interação que ia muito além dos jogos eletrônicos e bate papos nas redes sociais.
A CURIOSIDADE...  o não-contentamento em questionar, em lançar os "porquês"; os mesmos "porquês" que hoje você não faz, e que te faz ser tão conformado.
A SAUDADE, que te fazia carregar aquele boneco especial para tudo que era canto. A saudade dos avós, dos pais, da piscina da casa da sua tia, das férias na casa do primo, do Rex... 
A saudade de sensações e momentos que, de longe, você imaginava que sentiria. 

(M.)











Uma paixão "futebolesca" assumida!

Recomendo - Literatura (2) Manuel Bandeira



"Se fosse dor tudo na vida,
Seria a morte o sumo bem.
Libertadora, apetecida,
A alma dir-lhe-ia, ansiosa: - Vem!

Quer para a bem-aventurança
Leves de um mundo espiritual
A minha essência, onde a esperança
Pôs o seu hálito vital;

Quer no mistério que te esconde,
Tu sejas, tão somente, o fim:
- Olvido, impertubável, onde
"Não restará nada de mim!"

Mas horas há que marcam fundo...
Feitas, em cada um de nós,
De eternidades de segundo,
Cuja saudade extingue a voz.

Ao nosso ouvido, embaladora,
A ama de todos os mortais,
A esperança prometedora,
Segreda coisas irreais.

E a vida vai tecendo laços
Quase impossíveis de romper:
Tudo o que amamos são pedaços
Vivos do nosso próprio ser.

A vida assim nos afeiçoa,
Prende. Antes fosse toda fel!
Que ao se mostrar às vezes boa,
Ela requinta em ser cruel..."
(Manuel Bandeira - "A vida nos afeiçoa")

*

Esse poema tem muito a ver com um momento particular recente.
Além, do mais, recomendo por ser o escrito de um dos meus poetas preferidos, Manuel Carneiro de Souza Bandeira.


Recomendo - Literatura


"E quem pode comigo quando eu digo tudo o que sinto?"
(Caio Fernando Abreu)

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Inusitadamente...



A foto do caos desencadeado após o fim do jogo entre Boston Bruins e Vancouver Canucks, provavelmente de conhecimento mundial, me fez refletir...
Confesso que a foto chamou-me a atenção não tanto pelo apelo romântico, mas pelo contraste presentes em um cenário: o amor e o "caos" - assim, digamos. 
É a prova concreta que o amor, seja em que forma ele seja expresso, é algo inusitado e inesperado. Não é algo programado, acelerado, ou evitado. 
Acontece. 
De repente. 
Instantâneo. 
Se instala sem pedir licença ao seu morador ou ao seu local de moradia. Se expressa sem pedir respeito a tudo e a todos o que se passa ao seu redor. É um "mal-educado" esse tal de amor.
E como pode surgir do caos? E como pode nos caos gerar-se amor?
Não, não. Segundo a filosofia que explica a origem do Mundo, o Caos não gerou amor. Gerou a Noite e o Érebo. O Eros, o amor são coisas que vieram muito depois...
E mesmo vindo depois, e mesmo sendo tão avessos, como podem coexistirem?
Eis a prova...